Minha primeira vez como voluntária 


Na ONG onde em 2013 eu me candidatei para ser voluntária, antes de você começar a ir aos hospitais como Doutor ou Doutora palhaço você passa por vários treinamentos ministrados na própria ONG, e também passa por cerca de 10 estágios no hospital.

Os estágios são dividos em:

-2 visitas de cara limpa

-8 visitas já vestido como doutor palhaço

Minha primeira visita ao hospital foi em  Março de 2013 no Hospital de transplantes na brigadeiro, em São Paulo. Eu moro em São José dos Campos, que fica a cerca de uma hora e meia de lá (considerando ônibus e os dois metrôs).

Saí cedo de casa pra tomar um último café no Starbucks com uma grande amiga que estava voltando pro Uruguai com seu quase-marido e dois cachorrinhos, depois de viver 4 anos no Brasil. Ela teve um papel muito importante na minha história, mas vou falar disso outro dia.

Lembro muito dessa tarde de domingo porque quando cheguei em São Paulo estava frio, quando encontrei a minha amiga Jimena estava sol e depois quando caminhamos em direção ao hospital começou a chover. Ela me indicou a direção e nós nos encontramos novamente apenas um ano e um mês depois, quando eu fui no casamento dela no Uruguai e passei por uma mega aventura pra conseguir chegar lá.

O horário de encontro no hospital era as 15hs. Eu e mais 4 voluntários iríamos acompanhar a Doutora palhaço monitora Retanhola (todos os doutores adotam um nome diferente do original).

Depois das primeiras indicações de lavar as mãos a cada quarto, e conversar com os enfermeiros antes de entrar no quarto para saber as restrições, seguimos acompanhando ela que era a única com roupa de doutor palhaço.

A minha história começa aqui.

Entramos em um quarto, onde havia uma menina de uns 22 anos dormindo no canto direito do quarto, e uma senhora que estava dormindo no canto esquerdo do quarto. Cada uma das duas tinha uma acompanhante.

Logo que entramos no quarto a menina acordou e abriu um grande sorriso mas ficou nos olhando e não conversou muito. A acompanhante dela foi o oposto, falou pelos cotovelos e disse que também gostaria  de ser doutora palhaço um dia.

Como a senhora do canto esquerdo ainda estava dormindo, por respeito e para não acordar ela, nós nos despedimos da menina e da acompanhante e saímos para o corredor.

Lá no corredor encontramos um senhor de uns 70 anos que era voluntário no hospital a 16 anos, o que ele fazia era visitar e conversar com os pacientes, sem roupa especial somente com o bom coração. O engraçado é que a nossa monitora também era voluntária a 4 anos naquele hospital, e mesmo assim, foi a primeira vez que eles se encontraram.

Ficamos um tempo conversando com ele no corredor, e de repente, a acompanhante da menina do quarto anterior nos chamou, dizendo que a senhora havia acordado e que se quiséssemos voltar para o quarto e dizer um “oi” a ela, nós poderíamos.

Então voltamos ao quarto. Mas quando voltamos, a menina e a acompanhante dela (que foi quem nos chamou) estavam dando muitas gargalhadas sem parar, e nós ficamos sem entender.

Então a acompanhante dela disse que iria nos contar o que aconteceu, a menina pediu que não, mas ela insistiu e disse assim:

“_Quando vocês entraram no quarto pela primeira vez e ela sorriu, eu achei estranho, porque estou a dias tentando fazer essa menina ficar feliz e sorrir e não consigo. Quando vocês saíram do quarto, ela me contou que abriu o sorriso porque quando ela acordou e viu tanta gente colorida e feliz, ela pensou que havia morrido e estava no céu. E por isso ela sorriu.”

Nesse momento todos riram juntos e fizemos brincadeiras a respeito. Mas depois que acabaram os atendimentos nos quartos e nós nos reunimos, vieram as reflexões. E até hoje fico com o coração apertado quando lembro que uma menina um pouco mais nova do que eu ficou feliz por pensar que havia morrido.

Por isso também que me marcou muito a mudança de tempo naquele dia: frio, sol e chuva. Porque eu tive a oportunidade de sentir a mudança de tempo, e muitas pessoas que precisam ficar semanas ou meses no hospital, não tem a oportunidade de sentir ou fazer coisas que pra quem está do lado de fora é normal. Desse dia em diante, passei a reclamar menos até do trânsito que tenho a oportunidade de pegar.

E são essas as lições que levo na minha vida, e espero não me esquecer nunca.


Não tenho fotos desse dia, então coloquei uma foto da última vez que estive com a Rê, que hoje está na Espanha…e que faz bastante falta aqui.


Essa foto acima sim, é daquela tarde no Starbucks, antes da minha vida mudar para sempre.

Até a próxima :o)

3 comentários sobre “Minha primeira vez como voluntária 

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